Fatos e Relatos
Estou eu, quieta em meu quarto lendo, quando minha avó chega. Minha avó é uma pessoa muito boa, muito energética e falante. Ela é, definitivamente, uma peça. Ela entra no meu quarto, dá a volta na minha cama e senta na beira, sorrindo para mim. Eu sorrio de volta. Parte minha fica tensa em expectativa: minha avó não é lá muito conhecida por ser sucinta.
- Pintinha (sim, ela me chama assim), você não sabe o que a sua tia comprou.
Outro ponto forte dela é fofoca.
- Sério, Vó? O quê? - Minha voz não tem muito interesse, não herdei esse gene dela.
- Uma llama.
Senti minha respiração dar uma engasgada. Olhei para ela como se repentinamente houvesse crescido uma nova cabeça sobre seus ombros.
- Uma llama? - Vários pensamentos se embrenham na minha cabeça, confusos. Quero muito não acreditar, mas parte minha sabe das coisas - O animal?
Ela me observa por um momento e fala com alguma estranheza:
- Sim, o animal. Que tipo mais poderia ser?
- Uma estátua, um quadro, sei lá, vó. Mas uma llama? - Eu sabia que não deveria ter questionado.
- Pois é... E a llama é lindíssima. Você precisa ver a pelagem dela, é a mais bonita que eu já vi. Um malhado exótico.
Taí um discurso que eu jamais achei que escutaria. Fiquei imaginando quantas llamas a minha avó já conheceu e se alguma delas tinha qualquer coisa que não fosse exótica. Quando é uma llama o assunto, abstraindo peruanos e outras raras exceções, só concebo coisas fantásticas do meu imaginário ativo.
- Hm - Falei, para não me comprometer. Sei lá o que se comenta para esse tipo de informação.
- Mas você não acredita no que a llama fez! - ela continuou e deu sua risada de mamãe noel que faz meu coração aquecer.
- Cuspiu? - Meu conhecimento nesse assunto é limitado. Só sei que llamas andam bem em terrenos acidentados e cospem.
- Foi! E bem na sua tia - ela me fitou novamente - como você soube?
- Sabe como é, vó... Cachorros latem, llamas cospem.
Ela riu mais.
- A sua tia aprendeu a ver quando a llama vai cuspir (fica um tempo juntando saliva, com vontade) e da última vez segurou no pescoço dele (é macho), mas ele virou a cabeça para cima e cuspiu para o alto. Caiu na sua tia, de qualquer jeito.
Fiquei recriando a cena na minha cabeça. Fantástico. Um pensamento me ocorreu, leve a princípio, mas tomou forma e escureceu todos os demais:
- Vó? - esperei ela focar em mim - Onde a llama fica?
- No curral! - ela respondeu, serelepe.
Sabia, tinha certeza. O curral é do lado, do lado mesmo, do quarto que eu fico quando nós viajamos para a casa da minha tia e estava desativado (isso é, até a llama surgir em nossas vidas, claro.). Lembrei que no final de semana seguinte estaríamos visitando-a e suspirei. Ah, quem eu ia enganar? Estava louca para conhecer a llama.
essa personagem vai render muita história engraçada aqui no blog. figura!
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